27.1.07

Body System

As pernas,
As pernas,
As pernas,
As pernas não são
Pernas
São meios de locomoção,
E as mãos
Instrumentos de pegação.

E eu pego o quê?

Pego sífilis, hemorragia, hebola, AIDS,
Amores para o coração
– Este músculo melodramático –
E palavras.

E o que é palavras?
Palavras
É palavra com s.

Palavras são gestos da língua
Língua
Este aglomerado de papilas gustativas,
Ponte entre meu corpo e o mundo,
Por onde transita minha alma.

Alma que sai
Deixando a fabrica
De sonhos e pesadelos
Funcionando;
Impulsos elétricos de células neurais.

Alma que volta
E abra as janelas
Do corpo
Olhos,
Dois pontos de vista.

E se a alma se fosse de vez?

Seriamos como os trituradores estomacais,
Autotriturando-se.
Carne podre.

Quem resume tudo é o intestino.
Coroemos o ânus
Rei do organismo.
17/07/2004

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19.1.07

O que irão deixar?


João vai deixar o tabuleiro de xadrez.
O Fulano vai deixar a música.
Carlos vai deixar o chá.
O Beltrano vai deixar os poemas.
Drummond vai deixar o avião.
O Ciclano vai deixar as gargalhadas de amarguras.
Andrade vai deixar o que faz rima com Raimundo.
O Cidadão vai deixar o partido.
Anne vai deixar sua companhia.
O Coisinha vai deixar o jantar.
Victor vai deixar os desenhos virtuais.
E Eu vou deixar saudades.
17/07/2004

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Cara de Bicho Preguiça

Um desses dias, quando cheguei ao meu trabalho, encontrei três funcionários observando um bicho-preguiça que subia uma árvore do museu Emilio Goeldi. Um dos funcionários riu da lentidão do bichano e lembrou o quanto isso ajuda aos caçadores.

Ficamos alguns segundos filosofando acerca do animal e dos absurdos da caça com uma brisa úmida temperando a tarde. Quando vi que o bicho iria demorar a alcançar a copa da árvore, segui para minha sala. Mas não deixei de pensar naquela preguiça.

Vocês já repararam na cara do dito animal? Claro, não foi naquele dia em que vi a cara dele! Estava muito distante. O quanto não me pergunte, não sou bom em medições. Importa apenas que já via o naipe da figura, provavelmente em algum documentário do Animal Planet.

O bicho-preguiça sempre me pareceu ter duas caras. NÃO! Não quero dizer que ele é dissimulado! Por favor,... Tenho sim, duas impressões sobre a sua aparência.

Durante muito tempo me pareceu uma cara de lezo. Não lerdeza sinônima de vagaroso, mas de idiota, pomba-leza! Parece que nunca entende nada, nem vai se aborrecer com nada, meio, “sou da paz porque não entendo de política”.

A segunda impressão, e isso me veio naquele dia, é de o bicho-preguiça ter uma cara de angustiado. Vocês já repararam?!?!?! Parece sofredor, existencialmente em crise, quase uma personagem de “Gritos e Sussuros” – por esse aspecto, seria o animal de estimação perfeito de Graciliano Ramos. Parece-me estar passando por uma grande dor. Estaria ele se questionando da sua presença no mundo?

O mais certe é sua angústia proceder da sua lentidão! Cara, imagina o quanto deve angustiar querer chegar ao alto da árvore e levar um tempão porque sua fisiologia é essa?! Deve ser um horror!!! Pelo menos para mim. Não teria menor paciência para ser uma Preguiça, nem ter cara dela!

Diga-se, um amigo meu tem uma tremenda cara de Bicho-preguiça. Ele é avoado, vive se queixando do mundo, anda devagar e dorme muito.

Se você tiver, meu leitor, algum amigo que tenha uma das características pode chamá-lo de Bicho-preguiça!
01/12/2005

4.1.07

Ataques Cariocas

No apagar das luzes de 2006, o Rio de Janeiro sofreu um ataque de traficantes. Foram mais de 18 mortos, entre policiais e civis. Os ataques foram em zonas nobres da cidade. Entre os alvos, uma delagacia e um ônibus. Este foi incendiado e os criminosos nem tiveram a gentileza dos paulistas de convidar os passageiros a se retirar dos veículo.

Três versõs sugiram para explicar os ataques: segundo a Governadora Garotinho era um protesto ao regime disciplinar diferenciado; outros disseram que seria uma revolta contra o novo governo. A versão mais palusível, no entanto, foi do diretor das penitenciária: seria uma retaliação às melícias, grupos de policiais e ex-policiais que expulsão das favelas os traficantes e cobram dos moradores pela segurança.

Ambos, os traficantes e as melícias, são criminosos. Eles surgem na ausência do Estado. Como este não se faz presente nas regiões de periferia, outros grupos assumem o poder; os moradores, no início, sentem-se seguros com as melícias. Mas, logo após, eles passam a estorquir a população.

O que mais assusta nesses casos, foi a postura das autoridades. Além delas não se entenderem acerca das motivações dos ataques, muitas delas, notadamente a polícia carioca, teve uma postura arrogante. Um dos comandantes da polícia falou que a força nacional seria desnecessária porque ele fora treinada pela polícia do Rio e não teria nada a contribuir.

A arrogância deixou o rei nú. Espero que as autoridades cariocas não cometam o erro de deixar o povo a mingua.