31.12.06

Um Excelente 2007

Um Próspero Ano Novo! Um execelente 2007. Que seja melhor do que o ano que termina, ou porque os problemas serão menores, ou porque as felicidades serão maiores!

29.12.06

Feira de Anatomia

Ninguém queria entrar.
Ficaram parados do lado de fora.
Era difícil, é difícil, para o homem
Ver mortos os seus. Corpos, órgãos,

Membros espalhados. Corpos estirados,
Carbonizados. Um braço fibroso exposto.
Um homem com a genitália retraída.
Intestinos, cálices renais.

Ninguém queria olhar naquele espelho;
Ver que a beleza, a soberba, a força
Acabam. Não entraram,

Achando que lá fora estariam
Imunes. Mas todos estão
Presos à esteira da dissolução.
21/10/2001

23.12.06

A Antevéspera Do Natal

As ruas estão movimentadas
Os supermercados estão abertos
Os shoppings estão lotados.
Lojas estampam

Em suas vitrines
Cartazes de liquidação
Bem atrativos.

Pessoas de muitas classes visitam as lojas.
Só algumas classes compram nas lojas.

Os carros andam pelas ruas,
As crianças passam fome,
Os papais-noéis vendem seus sacos,
Um casal briga,
Ocorre um acidente na esquina,
Um contrato de compra-e-venda é fechado na corretora,
“Há um grande acréscimo de HIV”,
Um estupro é notificado na delegacia,
Os sinos da igreja tocam Noite Feliz,
As lojas vendem como nunca,
As últimas lâmpadas
São postas nos últimos pinheiros,
Os últimos presentes são comprados,
Sentimentos bons se proliferam.
O organismo urbano funciona regularmente.

Amanhã é véspera de Natal.
23/12/2001

19.12.06

Visões Que Tive Quando Pisquei Depois De Te Ver

Quando passaste do meu lado,
Peguei meu elefante alado
E cavalguei pelas estrelas
Mais frias do oceano.

Quando afogado no oceano vermelho,
Talvez morto, louco fiquei.
E no sonho da loucura,

Andava nas linhas das partituras,
Caía num copo de leite,
Pegava o barquinho de papel, voava até
A torre, beijava-te no vazio.
04/10/2001

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17.12.06

Epigrama n.º 1: Destino

Regi orquestras.
Fiz Óperas.
Fui cumprimentado e laureado.

Encontro-me hoje,
Em um frágil galho
De uma arvora velha
A beira do abismo.
25/04/2005

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11.12.06

Mau Uso das Leis de Incentivo Cultural

O Brasil possui um bom sistema de promoção da cultura. As duas principais leis são a Lei n.º 8.313/1991, conhecida como Lei Rouanet, e a Lei n.º 8.685/1993, denominada Lei do Audiovisual. A primeira cuida da cultura de maneira geral; a segunda, expecificamente do setor audiovisual. Por elas, o Ministério da Cultura aprova projetos culturais e artísticos. Os autores desses projetos buscam o patrocínio perante a iniciativa privada que se beneficia através de descontos no imposto de renda.
De tempos em tempos, somos acometidos por notícias de burla às leis. Normalmente, são casos de mau uso do dinehiro público.
Recentemente, a Revista Veja (de 13 de dezembro de 2006), relatou o caso da edição de uma enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe denominada Latinoamericana - sem o hífen que a gramática culta considera necessária. A referida encoclopédia custou 2 milhões e 23 mil reais, patrocinados pelo BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Eletrobrás. Os organizadores foram Emir Sader, sociólogo, e Ivana Jinkings, editora. Ambos tem tendência ideológica esquesdista.
Aparentemente, o projeto não demonstra a má aplicação do dinheiro público. Porém, a Revista VEJA cita verbetes nos quais a carga idológica ultrapassa o rigor da análise histórica. Cito dos exemplos transcritos pela revista:
No verbete dedicado ao persidente Lula, a política econômica é vista com maus olhos, mas o mensalão é entendido como "suposto pagamento mensal a deputados da base aliada para garantir maioria no Congresso" e que "a oposição de direita ganhou força, apoiada no monopólio privado da mídia, que estendeu ao máximo as denúncias na perspectiva d eenfraquecer Lula para impedir sua reeleição."
Quando a enciclopédia trata de Cuba e do Chila, o primeiro é visto como um país que ainda passa por uma transição entre o capitalismo e o socialismo; o sucesso econômico do segundo, é descrito como fruto da imaginação.
O problema não é as leis de incentivo cultural patrocinarem projetos com verniz ideológico. Um trabalho artístico pode ser patrocinado e ter como base a ideologia socialista ou a capitalista. No caso, porém, trata-se de obra de caráter técnico.
Uma enciclopédia exige o mínimo de rigor histórico. Os historiadores dispõe de macanismos capazes de relatar um fato de maneira bem amis imparcial do que o relatado pela Revista VEJA. E mesmo que se diga que a história é contada pelo vencedores, os memso historiadoes podem relatar um fato sob diversos ângulos. Por ser uma Enciclopédia Contemporânea, os organizadores deveriam ter maior cuidado para que os fatos fossem relatados, pelo menos, pelo prisma da direta e da esquerda!
O mais grave, contudo, é usar as leis de incentivo para ajudar a apagar escandalos de corrupção. Se fosse regorosa, a Enciclopédia, ao tratar sobr eo mensalão, não devria exprimir juizos de valores sobre a existência ou não dele (apesar de uma quantidade imensa de provas, praticamente todos os envolvidos não foram cassados). A justiça ainda não chegou a conclusões definitivas. Não é cabível que se faça um perdão por meio de uma enciclopédia.
Usar a cultura e a arte para benefício dos que estão no poder é muito comum. Triste, porém, é ver mecanismos como a Lei Rouanet serem usados para tal fim. Enquanto inexistirem mecanismos eficientes para impedir tais práticas, a solução é a seleção dos projetos ser mais criteriosa e a população ter mais atenção para essa área. Não se trata de impedir que uma linha de pensamento seja patrocinado por verbas públicas - afinal as idéias estão em tudo. É necessário impedir uso político da lei e, sendo o caso, a infidelidade científica.

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4.12.06

“Pessoa VIP”

“Ele é uma pessoa VIP”. Caro leitor, não fale isto! É um pleonasmo transnacional! VIP é a sigla inglesa Very Important Person (Pessoa Muito Importante – PMI). Ora, falar que alguém é uma “pessoa pessoa muito importante” é uma redundância. E olha, já vi isto em textos jornalísticos.

Mas não nos damos conta. Começa que no Brasil nem todos sabem o português, quiçá o idioma de Shakespeare! Mas acredito em um motivo maior para tal redundância: não tratamos o termo VIP como uma expressão estrangeira. É como uma criação brasileira, nacional! Muitos talvez nem saibam que VIP tem origem em outra língua.

E isto não é privilegio do VIP. O termo OK também é importação made in U.S.A. Há várias versões para o termo. Uma atribui a um capitão americano que, na saída dos barcos, para indicar que tudo estava certo, unia a ponta do polegar com a do indicador, em forma de O, deixava o dedo do meio remte e o dedo anelar e o mindinho inclinados, formando algo semelhante às letras O e K. Outra hipótese atribui o termo a uma erro ortográfico. Os trabalhadores portuários para indicar que uma mercadoria estava pronta para o embarque escreviam a sigla O. K., que queria dizer Oll Korrect! O correto seria All Correct! A.C.!

Termos simples que acabaram assimilados pela língua nacional, assim como Coca-Cola! Mais! São termos entendidos mundialmente! Coca-cola é, comprovadamente, a marca/palavra mais conhecida do planeta. Depois dela, a palavra Amazônia seria a mais conhecida. E, segundo o que ouvi, antes das duas, a expressão mais conhecida seria OK! AC, Leitor!

Não faço esta introdução como forma de informá-lo, meu caro leitor! Ela quer encher lingüiça e, de forma curiosa, introduzir o tema principal da crônica (seria “tema principal” um pleonasmo?).

Li, em uma coluna social, sobre certa festa onde estariam presentes somente os VIPs da cidade. A criatura não escreveu a frase que abre este texto; retirei-a de leituras anteriores.

Meus neurônios ficaram se perguntando como poderia se chamar certas pessoas de Very Important porque foram à uma festa paga!? Ou melhor: como classificar de VIPs quem pagou para ir à algum lugar?

Ser classificado como VIP deveria ser decorrência da importância de X pessoa em um grupo social. Como medir isto? Neste planeta capitalista, pelo dindin da figura!

Assim chegamos a conclusão óbvia: o dinheiro diz quem é importante! Mas não terminarei a crônica desta forma. Esta conclusão todos, cons- ou inscons- cientemente sabemos!

Tentemos ir além! Quanto pode ter custado o ingresso da dita festa? Calculemos alto: R$ 70,00. Qual quer um com disposição de pagar R$ 70,00 seria VIP. Teria seu nome citado na coluna social e, com pouco de sorte ou de mais dinheiro, sua foto publicada, com direito a uma legendazinha infame e pouco criativa!

Convenhamos meu VIL (Very Important Leitor), ser VIP a R$ 70,00, só na periferia do capitalismo! Mas não elogio os VIP a US$ 7.000,00 da metrópole. Lembrando Machado de Assis, criticar a periferia é a mais violenta crítica à Metrópole. Indo da borda para o centro, tudo é analisado, destroçado!

Mas não sou “contra burguês vote 16!”. Nem estou a fim de uma critica ácida à “sociedade capitalista globalizada”. Só queria um tema para exercitar a escrita.

E saiba, para ser VIP não precisa de dinheiro. Basta ser amigo de um colunista. Ou mais fácil, do fotógrafo da coluna. A.C., meu VIL!

30/10/2005