4.12.06

“Pessoa VIP”

“Ele é uma pessoa VIP”. Caro leitor, não fale isto! É um pleonasmo transnacional! VIP é a sigla inglesa Very Important Person (Pessoa Muito Importante – PMI). Ora, falar que alguém é uma “pessoa pessoa muito importante” é uma redundância. E olha, já vi isto em textos jornalísticos.

Mas não nos damos conta. Começa que no Brasil nem todos sabem o português, quiçá o idioma de Shakespeare! Mas acredito em um motivo maior para tal redundância: não tratamos o termo VIP como uma expressão estrangeira. É como uma criação brasileira, nacional! Muitos talvez nem saibam que VIP tem origem em outra língua.

E isto não é privilegio do VIP. O termo OK também é importação made in U.S.A. Há várias versões para o termo. Uma atribui a um capitão americano que, na saída dos barcos, para indicar que tudo estava certo, unia a ponta do polegar com a do indicador, em forma de O, deixava o dedo do meio remte e o dedo anelar e o mindinho inclinados, formando algo semelhante às letras O e K. Outra hipótese atribui o termo a uma erro ortográfico. Os trabalhadores portuários para indicar que uma mercadoria estava pronta para o embarque escreviam a sigla O. K., que queria dizer Oll Korrect! O correto seria All Correct! A.C.!

Termos simples que acabaram assimilados pela língua nacional, assim como Coca-Cola! Mais! São termos entendidos mundialmente! Coca-cola é, comprovadamente, a marca/palavra mais conhecida do planeta. Depois dela, a palavra Amazônia seria a mais conhecida. E, segundo o que ouvi, antes das duas, a expressão mais conhecida seria OK! AC, Leitor!

Não faço esta introdução como forma de informá-lo, meu caro leitor! Ela quer encher lingüiça e, de forma curiosa, introduzir o tema principal da crônica (seria “tema principal” um pleonasmo?).

Li, em uma coluna social, sobre certa festa onde estariam presentes somente os VIPs da cidade. A criatura não escreveu a frase que abre este texto; retirei-a de leituras anteriores.

Meus neurônios ficaram se perguntando como poderia se chamar certas pessoas de Very Important porque foram à uma festa paga!? Ou melhor: como classificar de VIPs quem pagou para ir à algum lugar?

Ser classificado como VIP deveria ser decorrência da importância de X pessoa em um grupo social. Como medir isto? Neste planeta capitalista, pelo dindin da figura!

Assim chegamos a conclusão óbvia: o dinheiro diz quem é importante! Mas não terminarei a crônica desta forma. Esta conclusão todos, cons- ou inscons- cientemente sabemos!

Tentemos ir além! Quanto pode ter custado o ingresso da dita festa? Calculemos alto: R$ 70,00. Qual quer um com disposição de pagar R$ 70,00 seria VIP. Teria seu nome citado na coluna social e, com pouco de sorte ou de mais dinheiro, sua foto publicada, com direito a uma legendazinha infame e pouco criativa!

Convenhamos meu VIL (Very Important Leitor), ser VIP a R$ 70,00, só na periferia do capitalismo! Mas não elogio os VIP a US$ 7.000,00 da metrópole. Lembrando Machado de Assis, criticar a periferia é a mais violenta crítica à Metrópole. Indo da borda para o centro, tudo é analisado, destroçado!

Mas não sou “contra burguês vote 16!”. Nem estou a fim de uma critica ácida à “sociedade capitalista globalizada”. Só queria um tema para exercitar a escrita.

E saiba, para ser VIP não precisa de dinheiro. Basta ser amigo de um colunista. Ou mais fácil, do fotógrafo da coluna. A.C., meu VIL!

30/10/2005