15.4.07

Chico Mendes e o Atual Estado da Degradação Ambiental






Talvez você que está lendo este post não esteja assistindo a mini-série Amazônia, da Rede Globo. Eu mesmo, só passei a assisti-la nesta última fase, onde é contada a história do seringalista acreano Chico Mendes, um herói. Não uso o termo de forma leviana – não se devem usar as palavras de forma leviana. Ele foi um herói na melhor precisa acepção da palavra. Nasceu em 1944, passou sua vida como seringueiro e lutou não apenas pela preservação da mata como algo intocável, mas como uma forma de preservar o homem e sua cultura.

Ele expôs os problemas dos seringueiros e do desmatamento para Brasil e o exterior. Dentre suas vitória, teve a suspensão de financiamento internacional para projetos que proporcionavam a devastação da mata e a implantação de reversas extrativistas no estado do Acre. Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988.

A luta de Chico Mendes tem ecos nas discussões sobre preservação ambiental de hoje. O planeta sofre os reflexos de climáticos de um modelo de desenvolvimento insustentável. A manutenção dele é inviável. Esta formatação gerou o aumento da temperatura no planeta, responsável por alterações climáticas significativas, a redução das áreas verdes, a extinção de espécies, só para ficar nos efeitos mais visíveis.

Após a publicação do relatório sobre a alteração climática, o mundo passou a respeitar a questão ambiental. Deixamos de ver os ecologistas como ecochatos. A percepção do problema ambiental como coletivo e emergencial pode ser considerado uma das mudanças de paradigma mais importante do século XXI. Os problemas do meio-ambiente (das alterações climáticas às poluições das águas) obrigarão uma mudança de estilo de vida de proporções comparáveis apenas, talvez, com a própria revolução industrial.

Este texto escrito há alguns anos atrás soaria messiânico. Hoje, é emergencial.

Propostas diversas vêm surgindo para solucionar a crise ambiental. Desde a enterras gás carbônico no subsolo – em fase de inicias em países como os EUA – até a criação do mercado de carbono – a ingênua proposta dos países mais desenvolvidos comprarem cotas de carbonos de países mais pobres para que estes não se desenvolvam.

Idéias como o mercado de carbono – surgido com o Protocolo de Kyoto – é incapaz de dar conta da magnitude do problema. É preciso encontrar um modelo de desenvolvimento que proporcione qualidade de vida para todos e degrade o mínimo o meio-ambiente. Talvez soe – e é – utópico um modelo de desenvolvimento que gere qualidade de vida para todos. Provavelmente, a sociedade encontre um formato menos prejudicial ao meio-ambiente, mas que não necessariamente melhore a vida de países como os da África. Mas, sonhar não custa.

O novo formato de desenvolvimento econômico deve considerar uma reformulação da postura ética e a compreensão das idiossincrasias das culturas locais.

Em termos éticos, devemos buscar o entendimento de pertencermos a uma rede coletiva, onde os nossos atos influenciam – mesmo microscopicamente – no todo. Exemplo prático: optar em um carro bicombustível a encher o tanque com álcool ao invés de gasolina. Seremos obrigados a alterar nossos padrões de consumo.

A compreensão das idiossincrasias das culturas locais é relevante e mais clara para àqueles dependem diretamente da natureza, como os povos das florestas os das montanhas geladas. O exemplo dos ribeirinhos da Amazônia. Eles dependem de atividades extrativistas. Se a região sofrer as alterações previstas nos relatórios, essa população não terá como se sustentar, dirigindo-se para as cidades, provocando inchaço urbano e, muito provavelmente, gerando acréscimos da violência e de desempregados – além de aumentar o contingente de movimentos como o MST, que hoje perdeu sua orientação e mais se interessa em poder do que em ajudar trabalhadores rurais. Ademais, essas populações perderão sua identidade e expressões culturais serão extintas.

Não se trata de uma luta do socialismo contra o capitalismo. Mas de reformular o modelo econômico, preferencialmente por um mais justo. Seguir o exemplo de Chico Mendes e, mas recentemente, da Irmã Dorothy são salutares. No caso desta religiosa, ele defendia o projeto de reflorestamento e manejo com geração de emprego e renda e de uma reforma agrária. Muitos a acusaram de invasões de terra. Não duvido que ela tenha praticado invasões. Mas, isto não justifica o seu assassinato em 2005. (Não sou favorável às invasões de terras, principalmente nos moldes do MST; mas, a reforma agrária é elemento da reformulação do modelo de exploração econômica, que inclui o uso responsável e da propriedade privada).

Para terminar – já escrevi muito para um blog – sugiro aos que me lêem que assinem no abaixo-assinado promovido pelos atores da mini-série global em prol da preservação da Amazônia. Talvez ele não resulte em nada; provavelmente muitos dirão se tratar de mais uma moda promovida pela poderosa Globo. Mas, o simples ato de protestar, de demonstrar a preocupação para os nossos políticos, a pressão social exercida (vamos combinar que movimentos artísticos têm seu peso) tem seu valor.

Abaixo, o meu depoimento no site Amazônia Para Sempre e o link para assinar.

http://www.amazoniaparasempre.com.br/

“Moro em São Paulo desde Fevereiro de 2007. Nasci e me criei em Belém do Pará, uma cidade fortemente ligada à floresta amazônica. Sinto-me na responsabilidade de construir, ainda que minimamente, na preservação da mata. Manter a mata é manter também a cultura dos povos que vivem nela, por ela e para ela. Além de preservar, devemos buscar uma forma sustentável de explorar as riquezas amazônicas. Só desta forma, poderemos proporcionar, de uma vez, vida digna aos que vivem na floresta, desenvolvimento para a região e para o Brasil e benefícios ecológicos para o planeta.”



05/04/07