24.3.07

Bush, Brasil e Etanol




Na quinta dia 8 de Março, o presidente Bush desembarcou em São Paulo. No outro dia, foi embora. Menos de 24 hs. O suficiente para um rebu na capital paulista. Vias interditadas, trânsito caótico e protestos contra a sua visita.

Fiquei impressionado com os protestos. Não pela magnitude – já vi maiores – mas pelos motivos, ou falta deles. Esta foi a única visita de Bush com um mínimo fundo ecológico – embora não seja sua prioridade – e que pode trazer benefícios econômicos para o Brasil. A intenção do presidente norte-americano é de substituir, ou pelo menos reduzir, a dependência dos Estados Unidos pelo petróleo, aumentando o uso do etanol (álcool) O petróleo tem como principais fornecedores países hostis aos EUA. Com o aumento do uso do etanol, Bush conseguiria reduzir a dependência dos xeiques árabes e da Venezuela, minimizaria a força de Hugo Chávez na América Latina e ajudaria a iniciar um processo sólido de redução do efeito estufa.

Transformar o etanol em uma commodite seria o primeiro passo rumo à consolidação desse combustível para uso em grande escala.

Então por que os protestos? Além da natural tendência a se protestar contra com é maior, e do fato de Bush ser um dos piores e mais belicosos presidentes dos Estados Unidos? Existe algum motivo que pode levar a prejuízos se o Brasil firmar um acordo com os norte-americanos? Tem! Mas todos, para se concretizarem, dependem da forma como o Brasil administrará a produção do álcool.

As manifestações diziam que nos tornaríamos terreno de plantio de cana-de-açúcar para os americanos, que haveria desabastecimento interno. Não vi, porém, nenhum slogan “o Etanol é nosso!” Podemos virar um grande terreno de plantação de cana-de-açúcar para os EUA? Não seria impossível.

Se os agricultores plantassem apenas cana no lugar de soja ou milho, sim, o Brasil poderia regredir a um sistema monocultor, como nos tempos coloniais. Existe o medo, fundado, de crescimento do desmatamento para ampliação da fronteira agrícola.

Porém, foi desconsiderado pelos manifestantes que temos condição de aumentar o plantio de cana sem derrubar nenhuma árvore e sem substituir nenhum tipo de cultura existente. Bastaria usar as terras já devastadas, atualmente usadas para a pecuária extensiva (um tipo de pecuário de baixo rendimento e qualidade, mas que ocupa grandes porções de terras). Sem derrubar nada e sem substituir nenhum tipo de outra cultura agrícola, teríamos condições de atender até a 25% da demanda mundial, caso o etanol se tornasse predominante nos automóveis.

Outro problema concreto seria ter como único cliente lá foro os Estados Unidos. Afinal, a procura por combustíveis alternativos está em estágio avançado. Um substituto mais ecológico e eficiente do que o álcool pode surgir a qualquer momento. Assim, de um momento para o outro, perderíamos nosso único cliente, gerando prejuízos. Solução seria estimular outros países a produzir e consumir o combustível, formando um sistema mundial de produção e consumo. Isso garantiria uma durabilidade para o etanol e evitaria crises de abastecimento. A ampliação do plantio do combustível pelo mundo, poderia ajudar a países pobres a crescer economicamente.

Temos que cuidar também da tecnologia, na qual hoje somos líderes. Não se trata de guardá-la sob sete chaves. Na era do conhecimento ninguém mais pode monopolizar uma tecnologia. Devemos é criar intercâmbio com outros países, sul-americanos, por exemplo, para continuar na liderança do etanol.

Como se pode ver, se o acordo prejudicar o Brasil, os responsáveis serão os plantadores de cana e o governo. Podemos nos beneficiar e contribuir para a minimização do efeito estufa, reduzir a influência de um ditador como Chávez no continente e abrir marcado para outros produtos nos EUA e em outros países.

Antes de protestar, deveríamos refletir. Só protestar sem pensar nos pontos positivos, nos iguala à pessoas belicosas como George Bush.
24/03/2007