6.3.07

O Caso do Surdo-Mudo

A pessoa vai a uma loja. Compra um produto. Sai e no meio do cominho é preso por tentativa de assalto.

Numa reedição do romance de Kafka, há 11 dias, um surdo-mudo foi até uma loja de conveniência comprou um produto e, após sair da loja, um outro cliente, por achar que os gestos do deficiente auditivo fossem uma tentativa de assalto, acusou-o de tentativa de assalto. Quando o proprietário chegou, decidiu chamar a polícia. Esta, sempre muito competente, prendeu o rapaz em flagrante, mesmo este tendo mostrado não portar armas e já ter saído da loja. O surdo-mudo continua preso porque a juiz ainda não apreciou o HC.

Este caso diz muito sobre o Brasil. Listemos:

1ª. A polícia é ineficiente, primeiro prende depois pergunta. Claro, ela o faz quando o suspeito se aproxima do estereótipo do PPP: Preto, Pobre e Puta.

2ª. A justiça é lenta. 11 dias para apreciar um pedido de liberdade provisória!!! O Judiciário é lento por existirem leis processuais arcaicas, por não ter estrutura adequada à demanda.

3ª. O ato do cliente-acusador que apontou o dedo para aquele surdo-mudo, desrespeitando os ensinamentos de cristo de não atirar a primeira pedra, só apontou o dedo por viver em um estado de pânico. Nas grandes cidades, vivemos apavorados, com medo de qualquer celular de baixo da roupa que lembre uma arma.

Os brasileiros estamos aquartelados em nós mesmos, nos isolando dos outros. E a classe dirigente (congressistas, presidente, ministros e juízes) ou tomam providencias inócuas ou lentas demais para a rapidez do crime.

Um risco de nada se fazer é a situação piorar a um ponto no qual se discutir soluções para a violência será um discurso vazio, sem empolgar os ânimos das pessoas. Daí, não precisaremos dar mas nenhum passo para a barbárie.
06/03/2007